sábado, 12 de junho de 2010

Ensino da Equitação na Alemanha.


A Federação Alemã tem três milhões de associados pagantes, e quase um milhão de cavalos competindo. A entidade regula não apenas as provas de todas as modalidades, mas também, desde 1968 ou algo assim, supervisiona todas as associações de criadores (é como se todas as nossas Associações de Criadores estivessem sob o comando da CBH...). Também o sistema de ensino de equitação, baseado a princípio nas normas de cavalaria a partir do século XIX até o princípio do XX, depois modernizado sucessivamente, é controlado e supervisionado pela FN (= federação alemã). A mesma regulamenta ainda a formação de profissionais do cavalo, desde tratadores a acompanhantes de passeios e instrutores. Não apenas o instrutor diplomado e certificado pode lecionar, como qualquer pessoa que queira entrar em provas precisa estar habilitada, o que se dá através de uma prova teórica sobre equitação, zootecnia e manejo, e com prova prática de manejo, encilhamento, reprise de adestramento e percurso de salto (antes de entrar na primeira prova de sua vida...)

Tudo isso movimenta o interesse de mídia e da indústria, seja diretamente (vendas) seja para publicidade (patrocínios). O mercado indireto do cavalo por lá (gente que não monta, mas que assiste provas, coleciona livros, compra revistas, visita a Equitana, etc, etc) é estimado em treze milhões de pessoas. E provas e eventos são transmitidos na TV aberta em horário nobre – o que mobiliza patrocinadores, atraindo mais público, estimulando a mídia, e assim sucessivamente, mais ou menos como acontece por aqui com fórmula 1 ou futebol.

O que quero dizer é que rola MUITO dinheiro e MUITO poder político, aliados à anedótica tendência alemã de seguir regras e fazer tudo certinho.
Em contrapartida, acho que cavaleiros e instrutores brasileiros são verdadeiros HERÓIS. Têm pouquíssimo acesso a educação formal de equitação com professores capacitados, quase não há literatura no idioma vernáculo, não há uma tradição equestre clássica como tal, provas de adestramento raríssimas, CCE então menos ainda, e a gente vai lá e faz o que faz!!! Resultados espetaculares – o garoto alemão que quer ser cavaleiro profissional vai na escola de formação de equitadores mais próxima, a 1 km da casa dele, faz um curso de três anos onde recebe bolsa de trabalho, monta quatro dias por semana, tem um dia semanal de aula teórica. Sai diplomado profissional, depois é só seguir carreira. Tudo no idioma nativo, centenas de provas de salto, adestr., CCE, sem falar do resto.... a cada fim de semana, num raio de 100 km da casa dele, ou menos. Nenhum aluno ou pai de aluno apitando na orelha que só quer saltar porque adestramento é chato. Nenhum instrutor que dá aula de salto porque é mais fácil (“vai e pula ali”). Quer dizer, põe um alemão destes aqui se virar como a gente faz, pra ver o que acontece, se ele acha possível!!
Qualquer tentativa de regulamentar nossa formação de equitadores, num nível mais amplo, tem que começar pequena e crescer organicamente. Enquanto isso, a lei de auto-regulagem do mercado (quem tem competência se estabelece) talvez nem seja tão ruim assim, pois pelo menos limita o nepotismo, a parcialidade, os favores políticos, etc. Mais ou menos como no PSI, onde até hoje não há aprovação de garanhões. Todo cavalo pode reproduzir, mas só aqueles que produzem ganhadores têm procura...

Enquanto isso, procuremos dar bons exemplos, plantar sementinhas. Um dia elas vão frutificar.

Abraços,
Claudia Leschonski.


*Dra. Claudia Leschonski : médica veterinária, treinadora de cavalos, instrutora de equitação, professora universitária. Escreve sobre equitação e manejo. Ministra clínicas periódicas.


* Mensagem extraída do Fórum Desempenho.


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